Proposta do Governo para reduzir gastos "é inegociável"

O Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE) informou hoje ter recebido indicações do Governo segundo as quais os cortes na Administração Pública sugeridos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) são mesmo para avançar, algo que a estrutura sindical considera "inegociável".
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"A maior parte destas questões são inegociáveis: colocar trabalhadores na prateleira é inegociável, aumentar o horário de trabalho sem mais, é inegociável, reduzir os salários dos trabalhadores a par daquilo que foi já a redução de 2011 e de 2012, é inegociável. Na prática, ninguém nos pode pedir para nos suicidarmos", disse aos jornalistas o dirigente do STE, Bettencourt Picanço.

Após um encontro de pouco mais de duas horas com o secretário de Estado da Administração Pública, Hélder Rosalino, Bettencourt Picanço revelou aos jornalistas que o governante terá "chamado à atenção" da estrutura sindical "para os compromissos que constam do documento da sexta avaliação da 'troika' e que apontam para a necessidade de o Governo rever nas suas diversas áreas, a redução da despesa e em função disso tomar as medidas adequadas".

"Há, de facto, uma intenção de reduzir o número de trabalhadores em diversas áreas, há intenção de promover uma redução das pensões - não se sabe como, porque é uma matéria que está a ser tratada pela Segurança Social -, há intenção de intervir no horário de trabalho para, eventualmente, as 40 horas. Há intenção de utilizar a mobilidade especial e as desvinculações por mútuo acordo dos trabalhadores", garantiu o presidente do STE.

Relativamente a números, Bettencourt Picanço referiu que Hélder Rosalino "não se comprometeu" com qualquer número de redução de trabalhadores ou de remunerações.

"Neste momento o número de trabalhadores que está a sair da Administração Pública é superior aquele que resultava do compromisso assumido com a 'troika' (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional) entre 2% a 3%", alertou o sindicalista, acrescentando que neste momento, a Administração Pública portuguesa é, em termos da União Europeia, aquela que tem o menor número de trabalhadores face à sua população ativa.

"Não há qualquer razoabilidade na redução do número de trabalhadores na Administração Pública e muito menos há qualquer razoabilidade em utilizar a mobilidade especial para colocar trabalhadores na prateleira ou em aumentar os horários de trabalho, visto que toda a gente sabe que não é por se aumentar o horário de trabalho que a produtividade aumenta", rematou o sindicalista.

Ao longo do dia de hoje, Hélder Rosalino recebeu também a Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública e a Frente Sindical da Administração Pública (Fesap) tendo distribuído às três estruturas sindicais um estudo sobre os horários de trabalho do setor público na União Europeia a 27 que será agora analisado pelos sindicatos.

Contactado pelos jornalistas, o gabinete de comunicação do secretário de Estado revelou que este não ia prestar quaisquer esclarecimentos sobre as matérias abordadas nestes encontros.

Governo e sindicatos deverão reunir-se na primeira ou segunda semana de março, segundo informou Bettencourt Picanço, após a sétima avaliação da 'troika' ao Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF) a Portugal.

O relatório do FMI, encomendado pelo Governo português, defende que deveriam ser colocados mais trabalhadores em mobilidade especial e que deveria haver um limite de permanência neste regime, dois anos, depois do qual os funcionários seriam recolocados ou dispensados.

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